Em câmara lenta, de Renato Tapajós

Subtítulo
A história do livro, experiência histórica da repressão e narrativa literária
Autor(a)
Eloísa Aragão Maués
Ano
2012
Resumo

Em 1977, a Alfa-Omega, uma editora de oposição ao regime militar, publicou Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós. Foi a primeira obra nacional, produzida por um escritor que atuou em grupo da esquerda armada, a trazer uma reflexão crítica sobre as estratégias da guerrilha e a denunciar o emprego brutal da tortura pela repressão. O autor participara da Ala Vermelha, um agrupamento urbano de influência maoísta que empreendeu ações armadas, e por isso cumpriu pena de 1969 a 1974. Divulgado por todo o Brasil, o livro despertou a fúria de setores conservadores e levou a um episódio inusitado: em julho de 1977 Tapajós foi preso em São Paulo e ficou dez dias incomunicável, sob a acusação de que Em câmara lenta era “instrumento de guerra revolucionária”. Isso apesar de o livro não ter sido proibido e não ter, do ponto de vista legal, nenhum empecilho à sua circulação. Somente 15 dias depois da prisão de Tapajós, a obra foi censurada e sua venda, proibida. A partir das intrincadas repercussões desse fato, o propósito principal deste trabalho é procurar demonstrar como a experiência da luta armada se transformou em narrativa literária. Para tanto, apresentamos um estudo sobre a história do livro, sobre os procedimentos empregados tanto na formação da culpa dirigida contra Renato Tapajós (com base em documentos do Departamento Estadual de Ordem Política e Social, DOPS, de São Paulo, produzidos durante a investigação policial) quanto os utilizados pela defesa do caso, bem como a respeito da recepção crítica e do teor testemunhal presente no romance.

Abstract

In 1977, Alfa-Omega, a publish house which opposes the Military Regime, published Em Câmara Lenta, by Renato Tapajós. It was the first book to analyze the leftist guerilla groups strategies and to denounce the brutality of the torture enforced by the military and the police against the activists of those groups. Tapajós had been a militant of Ala Vermelha, an urban Maoist guerrilla group, and had been jailed from 1969 to 1974. Publicized all over the country, the book was furiously received by the the conservative sectors of Brazilian society. In a surprising move, Tapajós was jailed in São Paulo in July of 1977 and stayed 10 days without any communication, under the accusation that Em Câmara Lenta was a "tool of the revolutionary guerrilla". Formally, the book was not forbidden and legally, there was no problem to publish and publicize it. Just after 15 days of Tapajós got the the jail, the book was formally censured and it was made illegal to sell it. Taking in consideration the complex repercussions of this event, the initial aim of this dissertation is to demonstrate how the leftist guerrilla experience was transformed in a literary narrative. In order to do that, I present a study of this book history, the criminal procedures enforced against Renato Tapajós (using the documentation of the State Department of Political and Social Order, DOPS, the political police of São Paulo, produced during the police investigation) and in favor of him, as well as the testimonial narrative of the romance and its critical reception by the public and the specialists.