Democracia, cidadania e produção de um espaço público democrático em tempos de globalização:

Subtítulo
Práticas discursivas entre estado-sociedade no movimento grevista da educação em Pernambuco(1987-1990)
Autor(a)
Maria Cristina Hennes Sampaio
Orientador(a)
Elisabeth Brait
Área
Ano
2008
Resumo

O presente trabalho situa-se no âmbito dos significados de práticas discursivas inscritas em discursos institucionais sobre o movimento grevista dos trabalhadores em educação no estado de Pernambuco, na “Nova República” (1987 a 1990). São analisadas as práticas discursivas de três atores sociais: o Governo Miguel Arraes, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação e a Mídia. Estudou-se o processo pelo qual relações mais amplas de dominação política perpassam as práticas discursivas no âmbito institucional, procurando-se observar as características e as formas do intercurso social pelo qual o significado é realizado: as estratégias discursivas que as classes mobilizam na luta de classes para transformar seus projetos sociais em práticas discursivas socialmente relevantes para a viabilização desses projetos; como as práticas discursivas se formam e transformam no interior do interdiscurso; as posições de enunciação ocupadas pelos diferentes locutores nos discursos sobre o movimento grevista e a forma como tais posições determinam a constituição de práticas discursivas. Os corpora foram descritos e interpretados com base nos seguintes pressupostos teórico-metodológicos:  de uma análise quantiqualitativa (lexical, textual e discursiva); das idéias sobre dialogismo, interdiscurso e memória discursiva; do conceito de condições de produção na perspectiva de práticas discursivas e do processo de mudanças nas práticas políticas e econômicas na compressão de um tempo histórico no qual se situa a evolução do capitalismo e de espaços físicos e simbólicos através dos quais expressa e exercita seu poder;  da formação de classes enquanto um processo de capacitação para a luta pelos seus interesses. Foram identificados e descritos: as formas de representação da diferença e da alteridade bem como as posições enunciativas e os papéis ocupados por cada um dos atores sociais no espaço de interlocução dos discursos institucionais sobre a greve, na perspectiva de tempo e de espaço de uma memória discursiva; os campos discursivos político e econômico e os espaços da (re)produção, da cidadania e o histórico. Concluiu-se que:  as práticas discursivas do Sindicato, reivindicando o direito à participação na gestão governamental, ao contrário do Governo, politizaram o espaço de produção discursiva tanto do ponto de vista simbólico – pela ampliação da compreensão responsiva da cidadania – como prático – em direção a uma transformação das relações sociais políticas entre Estado e trabalhadores; a luta entre o movimento grevista e o Governo não resultou em conquistas econômicas mas favoreceu a capacitação organizativa e política dos trabalhadores; a relação estabelecida entre Governo-Sindicato não favoreceu a ampliação da democracia no sentido de possibilitar a participação dos trabalhadores na administração pública; a ação sindical não conseguiu mobilizar uma opinião pública favorável ao movimento grevista;  o papel da Mídia consistiu muito mais em articular um jogo de poder e de controle do espaço público midiático do que contribuir para a sua democratização; o espaço público de livre debate não se limita, necessariamente, ao espaço midiático: ele é um espaço fragmentado que dá lugar à existência  de diversos outros espaços públicos na vida social: profissional, associativa, sindical e popular.

Resume

Ce travail a pour objet l’étude des significations de pratiques discursives inscrites dans des discours institutionnels à propos du mouvement gréviste des travailleurs de l’éducation dans l’Etat du Pernambouc, pendant la période de la “Nouvelle République” (1987 à 1990). Les pratiques discursives de trois acteurs sociaux sont analysées: le Gouvernement  de Miguel Arraes, le Syndicat des Travailleurs de l’Education du Pernambouc et les Médias. On a étudié le processus par lequel des relations plus vastes de domination politique accompagnent les pratiques discursives dans le cadre institutionnel, en cherchant à observer les caractéristiques et les formes de l’intercours social par lequel la signification est réalisée: les stratégies discursives que les classes mobilisent dans la lutte des classes pour transformer leurs projets sociaux en pratiques discursives socialement valables pour rendre ces projets viables; comment les pratiques se forment et se transforment à l’intérieur de l‘interdiscours; les positions d’énonciation occupées par les différents locuteurs dans les discours sur le mouvement gréviste et la forme par laquelle de telles positions déterminent la constitution de pratiques discursives. Les corpora ont été décrits et interprétés sur la base des présupposés théorico-méthodologiques suivants : une analyse quanti-qualitative (lexicale, textuelle et discursive); des idées sur le dialogisme, l’interdiscours et la mémoire discursive; des concepts de condition de production dans la perspective de pratiques discursives et du processus de changement dans les pratiques politiques et économiques, dans la compression d’un temps historique dans lequel se situe l’évolution du capitalisme, et d’espaces physiques et symboliques à travers lesquels son pouvoir s’exprime et s’exerce; de la formation de classes lors qu’un processus de capacité pour la lutte pour ses intérêts. Nous avons identifié et décrit: les formes de représentation de la différence et de l’altérité tout autant que les positions énonciatives et les rôles occupés par chacun des acteurs sociaux dans l’espace d’interlocution des discours institutionnels sur la grève dans la perspective de temps et d’espace d’une mémoire discursive; les champs discursifs politiques et économiques et les espaces de la (re)production, de la citoyenneté, et le champ historique. On conclut que: les pratiques discursives du Syndicat, revendiquant le droit à la participation dans la gestion gouvernementale, au l’inverse du Gouvernement, ont politisé l’espace de production discursive, tant du point de vue symbolique – par l’élargissement de la compréhension réponsive de la citoyenneté – que pratique – dans la direction d’une transformation des relations sociales politiques entre l’Etat et les travailleurs; la lutte entre le mouvement  gréviste et le Gouvernement n’a pas eu pour résultat des conquêtes économiques mais a favorisé la capacité organisatrice et politique des travailleurs; la relation établie entre Gouvernement et Syndicat n’a pas favorisé l’élargissement de la démocratie dans le sens de rendre possible la participation des travailleurs dans l’administration publique;  l’action syndicale n’a pas réussi à mobiliser une opinion publique favorable au mouvement gréviste; le rôle des Médias a consisté beaucoup plus à articuler un jeu de pouvoir et de contrôle de l’espace public médiatique que de contribuer à sa démocratisation; l’espace public de libre débat ne se limite pas nécessairement à l’espace médiatique: c’est un espace fragmenté qui donne lieu à l’existence de divers autres espaces publics dans la vie sociale, professionnelle, associative, syndicale et populaire.