Coerções e liberdades textuais em francês como língua estrangeira

Subtítulo
Por um desenvolvimento do estilo na produção escrita por meio do gênero textual relato de viagem
Autor(a)
Suélen Maria Rocha
Orientador(a)
Profa. Dra. Eliane Gouvêa Lousada
Ano
2014
Resumo

Esta dissertação tem por objetivo analisar o desenvolvimento da produção escrita em francês como língua estrangeira, por meio do gênero textual “relato de viagem”, porém procurando verificar como os alunos desenvolvem suas capacidades de linguagem a partir das restrições e liberdades permitidas pelo gênero escolhido. Nesse sentido, a pesquisa visa a investigar como os alunos se apropriam de características do gênero, mostrando, também, como inserem marcas de subjetividade que podem ser consideradas como estilísticas. Os dados foram coletados em um curso de produção escrita, oferecido pelos cursos extracurriculares de francês do Serviço de Cultura e Extensão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Os alunos, situando-se entre o nível A2 e B1 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (CONSEIL DE L’EUROPE, 2001), puderam estudar três diferentes gêneros textuais, dentre eles o relato de viagem. Os aportes teóricos que orientaram esta pesquisa apoiam-se, sobretudo, nos pressupostos do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999/2009, 2006a, 2008; MACHADO, 2009) e nos estudos de Schneuwly e Dolz (2004/2010) sobre a utilização dos gêneros textuais como instrumento no ensino e aprendizagem, para o desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos: capacidade de ação, capacidade discursiva e capacidade linguístico-discursiva. Para atingir os objetivos específicos desta pesquisa, baseamo-nos, paralelamente, nas discussões sobre estilo a partir de alguns autores (BRONCKART, 1999/2009, 2006c; SCHNEUWLY; DOLZ, 2004/2010; BAKHTIN, 1997; CLOT, 2007; BRANDÃO, 2005a, 2005b; BRAIT, 2005), mas, principalmente, na discussão acerca das coerções e liberdades textuais de Bronckart (2006c). A fim de analisar os textos coletados, além do quadro teórico-metodológico proposto por Bronckart (1999/2009; 2006a), servimo-nos dos estudos de Kerbrat-Orecchioni (2002) e Maingueneau (2001) no que diz respeito às marcas de subjetividade nos textos. Com base em autores que estudam o papel dos gêneros textuais no ensino (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004; DOLZ; GAGNON; TOULOU, 2008; LOUSADA, 2002/2010, 2009, 2010; CRISTOVÃO, 2002/2010, 2009), construímos o modelo didático do gênero relato de viagem, elaboramos uma sequência didática (SD) e a aplicamos no contexto referido. Os dois primeiros módulos da SD propuseram atividades que focalizaram as características mais estáveis do gênero. Após esses módulos, uma produção intermediária foi requerida aos alunos, com a intenção de verificar se eles tinham mobilizado as capacidades de linguagem primordiais para a produção desse gênero. Em seguida, no terceiro módulo, selecionamos um texto com o objetivo de explorarmos as liberdades textuais exercidas por seu produtor. Os resultados de nossa pesquisa mostraram que o trabalho com gêneros em língua estrangeira se constitui como um instrumento potencial de desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos. Ao focarmos o estilo nos textos, os alunos, em suas produções finais, mobilizaram recursos discursivos e linguísticos menos canônicos, sob inspiração dos textos vistos em aula, estabelecendo, portanto, uma relação de intertextualidade com os textos da SD. Além de demonstrar a natureza dialógica do estilo, alguns alunos, ainda, recorreram ao intertexto, o que pode indicar o desenvolvimento da autonomia na escrita. Em suma, nossa proposta didática foi ao encontro do que afirma Bronckart (2006c): a preexistência de modelos é a primeira condição para o exercício da liberdade nos textos.

Abstract

This thesis aims to analyze the development of written production in French as a foreign language through the genre "travel journal", but trying to verify how students develop their language capacities from restrictions and liberties allowed by the chosen genre. Therefore, this research investigates how students appropriate the characteristics of the genre and shows how they insert marks of subjectivity that can be considered as stylistics. Data was collected in a writing course offered by Cultural and Extension Service French extracurricular courses, from the Faculty of Philosophy, Letters and Human Sciences, at the University of São Paulo. Students, ranging between levels A2 and B1 of the Common European Framework of Reference for Languages ​​(CONSEIL DE L' EUROPE, 2001), were able to study three different textual genres, among them the travel journal. The theoretical framework that guided this research relies mainly on the theoretical assumptions of socio-discursive interactionism (BRONCKART, 1999/2009, 2006a, 2008; MACHADO, 2009) and the studies of Schneuwly and Dolz (2004/2010) on the use of textual genres as a tool for teaching and learning that can help student develop their language capacities: action capacity, discursive capacity, and linguistic-discursive capacity. To achieve our specific goals, we rely in parallel on the discussions about style (BRONCKART, 1999/2009, 2006c; SCHNEUWLY; DOLZ, 2004/2010; BAKHTIN, 1997; CLOT, 2007; BRANDÃO, 2005a, 2005b; BRAIT, 2005), but mainly on the discussion of textual constraints and liberties by Bronckart (2006c). In order to analyze the texts collected, we use not only the theoretical and methodological framework proposed by Bronckart (1999/2009, 2006a), but also the studies from Kerbrat-Orecchioni (2002) and Maingueneau (2001) with regard to subjectivity marks in the texts. Based on authors who study the function of textual genres in teaching (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004/2010; DOLZ; GAGNON; TOULOU, 2008; LOUSADA, 2002/2010, 2009, 2010; CRISTOVÃO, 2002/2010, 2009), we built the didactic model of the textual genre travel journal, developed a didactic sequence (DS), and applied it in the context mentioned before. Activities were proposed in the first two modules of the DS that focused on the most stable features of the genre. After these modules, an intermediate production was required from students intending to check if they had mobilized essential language capacities for the production of this genre. In the third module we selected a text with the aim of exploring textual liberties exercised by its producer. The results of our research showed that a genre-based perspective is a potential tool for developing students’ language capacities in a foreign language. As we focused on style in texts, students mobilized less canonical discursive and linguistic resources in their final productions inspired by texts from the class, thus establishing a relationship of inter-textuality with the texts of the DS. In addition, demonstrating the dialogic nature of style some students also made use of inter-text, which may indicate the development of autonomy in writing. In short, our didactic proposal confirms Bronckart (2006c) statement: preexisting models are the first condition for the exercise of liberty in texts.

Resume

Ce mémoire a pour objectif d’analyser le développement de la production écrite des apprenants de français langue étrangère, par le genre textuel récit de voyage, cependant nous cherchons à vérifier comment les apprenants développent leurs capacités langagières à partir des contraintes et des libertés permises par le genre choisi. À cet égard, cette recherche vise à examiner comment ces élèves s’approprient les caractéristiques du genre, en montrant, également de quelle manière ils insèrent les marques de subjectivité, que nous considérons des indices stylistiques. Les données ont été recueillies dans un cours d’écriture, offert par le cours extra-universitaire de français du Service de Culture et Extension de la Faculté de Philosophie, Lettres et Sciences Humaines de l’Université de São Paulo. Les élèves, en se situant entre le niveau A1 e B1 du Cadre Européen Commun de Référence pour les Langues (CONSEIL DE L’EUROPE, 2001), ont pu étudier trois différents genres textuels, parmi lesquels le récit de voyage. Le cadre théorique qui sous-tend cette recherche s’appuie sur les présupposés de l’interactionnisme socio-discursif (BRONCKART, 1999/2009, 2006a, 2008; MACHADO, 2009) et sur les études de Schneuwly et Dolz (2004/2010) en ce qui concerne l’utilisation des genres textuels comme un instrument dans l’enseignement et l’apprentissage des langues, pour le développement des capacités langagières des élèves: la capacité d’action, la capacité discursive et la capacité linguistique-discursive. Pour atteindre les objectifs spécifiques de cette recherche, c’est-à-dire, de vérifier l’insertion du style dans les récits de voyages, nous nous sommes servis également des discussions sur le style à partir de quelques auteurs (BRONCKART, 1999/2009, 2006c; SCHNEUWLY; DOLZ, 2004/2010; BAKHTIN, 1997; CLOT, 2007; BRANDÃO, 2005a, 2005b; BRAIT, 2005), mais nous nous sommes basés surtout sur la discussion à propos des contraintes et des libertés textuelles de Bronckart (2006c). Pour analyser les textes recueillis, nous avons utilisé le cadre théorique-méthodologique conçu par Bronckart (1999/2009; 2006a), ainsi que les études de Kerbrat-Orecchioni (2002) et Maingueneau (2001) à propos des marques de subjectivité dans les textes. Basés sur les auteurs qui étudient le rôle des genres textuels dans l’enseignement (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004; DOLZ; GAGNON; TOULOU, 2008; LOUSADA, 2002, 2009, 2010; CRISTOVÃO, 2002, 2009), nous avons construit le modèle didactique du récit de voyage; nous avons élaboré une séquence didactique (SD) et nous l’avons appliquée dans le contexte mentionné. Les deux premiers modules de notre SD ont proposé des activités à partir d’un texte plus stable, en se penchant donc sur le travail avec les caractéristiques standards du genre. Après ces modules, une production intermédiaire a été requise aux apprenants, dans le but de vérifier s’ils avaient mobilisé les capacités langagières pour produire un texte selon le modèle du genre. Ensuite, dans le troisième module, nous avons sélectionné un texte qui ait l’intention d’exploiter les libertés textuelles exercées par son producteur. Les résultats de notre recherche ont montré que le travail avec le genre en langue étrangère se constitue comme un instrument potentiel de développement des capacités langagières des élèves. Lorsque nous avons focalisé le style dans les textes, les apprenants, dans leurs productions finales, ont mobilisé des ressources discursives et linguistiques moins canoniques, en s’inspirant des textes vus en salle de classe, ce qui a révélé une relation d’intertextualité avec les textes de la SD. Au-delà de renforcer la nature dialogique du style, d’autres apprenants ont recouru à l’intertexte, ce qui peut indiquer le développement de l’autonomie dans leur écriture. En bref, notre proposition a permis de démontrer ce que Bronckart (2006c) soutient: que la préexistence de modèles est la condition même de l'exercice de la liberté textuelle.