A teoria semiótica de linha francesa, em seu início, tinha como preocupação maior as questões do inteligível, quando Greimas propôs um percurso gerativo do sentido capaz de dar conta dos diversos sistemas de significação. Entretanto, com o passar do tempo, as questões da ordem do sensível e do afeto se colocaram como um desafio para os analistas e pediram espaço na teoria trazendo textos em que a narrativa não era central. Claude Zilberberg, em especial, é um dos autores que caminha na direção de propor a primazia do sensível em relação ao inteligível com os recursos do que veio a se chamar semiótica tensiva. Acompanhando o movimento feito tanto pela teoria quanto pela literatura, nossa dissertação tem como objeto um romance experimental, Catatau, de Paulo Leminski, que se apresenta como uma obra de difícil acesso devido à sua pouca linearidade narrativa. Nosso intuito é abordar a obra pelo viés da teoria tensiva tentando apontar caminhos possíveis de leitura a partir de estratégias e procedimentos recorrentes no texto. Assim como Zilberberg encontra no modelo saussuriano da silabação um sistema rítmico passível de ser expandido a todos os domínios semióticos, podemos encontrar em um romance como o Catatau células ou elementos que se repetem em determinados intervalos criando uma lei, uma orientação, enfim, um ritmo. É curioso notar, no entanto, que no caso da obra analisada, tal ritmo se mostra mais como um desorganizador da linguagem que como um organizador. Queremos com isso dizer que é a alternância da célula rítmica que provoca no leitor o efeito ininteligibilidade. Evidentemente que há diversos outros recursos, principalmente de nível discursivo, que também reforçam esse efeito, como mostramos ao longo do trabalho. Enxergamos então o romance de Leminski menos como uma narrativa diluída que como o produto de uma vivência, sendo que tal vivência só é possível por meio de um sujeito sensível, afetado pelo que está à sua volta. É nessa linha de abordagem que encontramos os meios para explicitar a construção do sentido do texto, objetivo por excelência da teoria semiótica.
In its beginnings, the French semiotic theory had as its major concern the issues of the intelligible, when Greimas proposed a generative path of meaning capable to comprise many systems of meaning. In the course of time, though, the analysts were defied by issues related to sensibility and affection, which claimed for a place in theory, through texts in which narrative was not central. Claude Zilberberg, in particular, is one of the authors who defends the primacy of the sensibility over intelligibility through the features of which came to be called tensive semiotics. Following this movement both through theory and literature, this dissertation chooses as its subject an experimental novel, Paulo Leminski’s Catatau, almost considered an unintelligible work due to its non-linear narrative patterns. We aim to approach this novel through the tensive semiotics theory, proposing some ways for its reading based on the text’s iterant strategies and procedures. As Zilberberg finds in Saussure’s syllabic model a rhythmic system which can be expanded to all semiotic domains, we can find in a novel like Catatau cells or elements which repeat in certain intervals, creating a rule, an orientation, a rhythm at least. In Catatau, this rhythm seems much more to disorganize than to organize the language. It means that it’s the rhythmic cell interchange that leads the reader to that effect of unintelligibility. Of course that there are more features that reinforce this effect within the novel, as we show along our work. That means that we see Leminski’s novel less as a diluted narrative and more as the offspring of some experience only made possible if built upon some person’s sensibility, affected by his/her surroundings. On this specific approach we find our means to make explicit the building of the text meaning, which is considered the semiotic theory main goal.