História e forma em Ragtime, The Book of Daniel e Homer & Langley, de E. L. Doctorow
As obras do escritor norte-americano Edgar Lawrence Doctorow aqui estudadas desenham um panorama criticamente iluminador da história dos Estados Unidos no Século XX. Em The Book of Daniel, acompanhamos a trajetória da Esquerda norte-americana dos anos 30 aos anos 60. Em Ragtime, o cenário histórico é a Belle Époque e a “Era do Ragtime” – da virada do século até a Primeira Guerra Mundial. Em Homer & Langley, o arco temporal se expande para abrigar grande parte do século – da Primeira Guerra Mundial aos anos 80. Nos três romances, há uma dialética entre o impulso de suscitar conexões e de figurar um quadro histórico e social mais amplo e a dificuldade de se realizar esse projeto por meio da própria linguagem e lógica da fragmentação que impedem as articulações e emperram a representação. Nesta tese, procuro ler as ambiguidades e hesitações da forma nesses três romances como “incertezas produtivas” – potenciais lições para o pensamento crítico contemporâneo, o qual tateia certezas num mundo em crise. Romances como Ragtime, The Book of Daniel e Homer & Langley são animados mais por uma hermenêutica da concretude que por uma poética da relativização. A análise das estratégias de figuração do material histórico que compõe essas obras mostra como essas três narrativas revigoram o romance histórico na contemporaneidade.
The novels by E. L. Doctorow studied here draw a critically illuminating panorama of American History in the 20th century. In The Book of Daniel, we follow the trajectory of the American Left from the thirties up to the sixties. In Ragtime, the historical scenery is the Belle Époque and the “Ragtime era”, from the beginning of the century up to World War I. In Homer & Langley, the time frame is broadened to include almost the entire century – from World War I up to de eighties. In those novels, we find a dialectical relationship between the impulse to bring forth connections and represent a larger social and historical picture, and the difficulty of achieving such a project through the very language and logic of fragmentation which obstructs the making of articulations and renders representation difficult. In this work, I try to read the ambiguities and hesitations of the form in those three novels as “productive uncertainties” – potential lessons to contemporary critical thinking. Novels such as Ragtime, The Book of Daniel e Homer & Langley are animated more by a hermeneutics of the concrete than by a poetics of relativity. The analysis of the representational strategies those novels employ to depict the historical material from which they are made shows how those narratives reinvigorate the historical novel today.